terça-feira, 14 de agosto de 2007

O PowerPoint pode matar? (Você foi padronizado)

O risco dessas apresentações monótonas e padronizadas pode ser o maior tédio. No dia 01 de fevereiro de 2003, o ônibus espacial Columbia desintegrou-se ao reentrar na atmosfera da Terra, matando os sete astronautas que estavam a bordo. A comissão de inquérito da Nasa para o acidente do Columbia concluiu que a causa foi um dano causado por pedaços do revestimento que se desprenderam do tanque externo do foguete de lançamento e atingiram a asa esquerda da nave 81,9 segundos após a decolagem.

Será que a Nasa sabia dessa possibilidade antes de sua ocorrência? Infelizmente, eles deveriam saber.

Em 24 de janeiro de 2003, uma semana antes do desastre, uma equipe de avaliação de escombros organizou uma divulgação formal do que havia descoberto, usando – o que mais? – uma apresentação em PowerPoint. A equipe advertia dos riscos, mas, por alguma razão, a mensagem jamais chegou ao destinatário certo. Depois do fato consumado, a Nasa admitiu que o PowerPoint talvez tenha desempenhado um papel primordial na falha de comunicação. Um dos slides da equipe é mostrado aqui; não admira que a equipe de avaliação de escombros não tenha conseguido mobilizar a Nasa para a ação.

O crítico mais ferrenho dessa apresentação é o guru do design de informação Edward Tufte, que afirmou que a estrutura desse slide decisivo torna difícil receber a verdadeira mensagem. A Nasa sabia que o verdadeiro impacto de escombros durante o lançamento da nave Columbia era muito maior que tudo o que fora estudado em modelos numa análise anterior (batizada “Crater” e mencionada no slide). A análise mostrava que a camada isolante de poliuretano (“SOFI” ou Spray-on foam insulation) podia provocar danos “significativos” se seus fragmentos penetrassem as lâminas de revestimento rígido exterior do ônibus espacial. Infelizmente, para todos os que tentavam estimar a seriedade da situação, a verdade letal ficou escondida em um subtópico de menor importância, marcado por pequenos pontos.

O fato de que a análise do software CRATER realmente não se aplicava ao dano do Columbia aparece na penúltima linha: “As condições de vôo estão significativamente fora do escopo da base de dados do teste”. Além disso, por cinco vezes, aparece a palavra estéril “significativo”. Em si, não é uma palavra alarmante, mas sabemos que, neste caso, havia um motivo concreto para alarme.

Na última linha, a palavra “significativamente” corresponde, de fato, a 400 por cento. O slide deveria ter, talvez, uma única linha: “O dano é potencialmente catastrófico”.

A Comissão de Inquérito do Acidente do Columbia só deixou de afirmar que o PowerPoint foi o causador do desastre do ônibus espacial. Houve outras complicações, principalmente organizacionais. Mas o grupo de investigação dedicou uma página do relatório à explicação de Tufte. O texto apertado e cheio de clichês que acompanha os slides da apresentação tornou obscura uma mensagem essencial.

Que abordagem teria sido melhor? A Nasa tinha documentação fotográfica de danos de impactos similares (mas bem menores) causados a outros ônibus espaciais. Imagens dos danos concretos, em fotos de alta resolução, teriam exposto, de forma espetacular, a questão.

Obs: aqui é o local reservado para o slide. Recuso-me a colocá-lo.


Fonte: Por que as pessoas de negócios falam como idiotas. (Um guia de combate à embromação) Editora BestSeller.

Um comentário:

Unknown disse...

só fazendo propaganda do blog hein?
hehehehe
beijos, renata! :)))