quinta-feira, 26 de abril de 2007

O bom entendedor

Saber argumentar já foi a arte das artes.
Hoje não basta.
Temos de ser advinhos sobretudo nas questões que podem nos enganar.
Não pode ser entendido aquele que não é um bom entendedor.
Há advinhos do coração e linces das intenções.
As verdades que mais nos interessam se exprimem sempre pela metade; só os atentos as compreendem totalmente.
Nos assuntos que parecem favoráveis, contenha a credulidade com rédeas.
Nos odiosos use as esporas.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Equívocos da Modernidade

Ao longo dos séculos, a humanidade produziu três grandes e eternos livros de sabedoria:
  • O Príncipe, de Maquiavel;
  • A Arte da Guerra, de Sun-Tzu; e
  • A Arte da Sabedoria Mundana, de Baltazar Gracian.

Observadores argutos dos poderosos, estes clássicos extraordinários mesclam a sabedoria espiritual com a arte de viver e guerrear. Extremamente atuais e modernos, mostram os talentos de autores intransigentes com a insensatez humana e capaz de sintetizar com precisão as eternas indagações da consciência.

Agora, no século 21, deparamos que chegamos ao fim da história. E o que preencheu o lugar recentemente deixado pelas noções de história, progresso e razão? - Cultos, charlatães, gurus, pânico irracional, confusão moral e uma epidemia de picaretagem.

Neste sentido, somos presenteados com o quarto livro de sabedoria, o qual considero como aquele que coloca todos os fatos praticados pela insensatez humana, detalhando a extraordinária intensificação da crença em superstições e da histeria nos últimos 25 anos.

Do medo de extraterrestres à compulsão pela internet, Francis Wheen, em COMO A PICARETAGEM CONQUISTOU O MUNDO, Editora Record, descreve de forma hilariante o período na história do mundo em que tudo começa a parar de fazer sentido. É um ataque, através do racionalismo, à estupidez contemporânea.

Vale a pena conferir. São hilariantes os equívocos da modernidade.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Ainda o trabalho...

O mundo ficou tão complicado que todos nós passamos o dia inteiro no trabalho blefando e esperando que as nossas patetices não sejam desmascaradas. Vejo o mundo como um esforço maciçamente absurdo, povoado por pessoas que lutam todos os minutos de suas vidas para racionalizar as bobagens que fazem.
Não é o mundo dos negócios que desperta a nossa idiotice, mas poderia ser o lugar onde a mais notamos. Nas nossas vidas pessoais, toleramos o comportamento bizarro. Ele até parece normal. (Se não acredita, dê uma olhada nos seus parentes).
Mas, no ambiente do trabalho, achamos que todos deveriam ser guiados pela lógica e pela razão. Qualquer absurdo que se comete dentro da empresa fica tão visível quanto uma freira morta num campo de neve. Tenho certeza de que o ambiente de trabalho não é mais absurdo do que a vida no dia-a-dia, mas nele as besteiras ficam muito mais evidentes.
Acho muita graça no fato de nos levarmos a sério. Raramente reconhecemos as nossas próprias idiotices, mas vemos claramente as dos outros. Esse é o ponto de tensão central nas empresas.
"Esperamos que os outros ajam racionalmente, mesmo quando somos irracionais"
É inútil esperar comportamento racional das pessoas com quem você trabalha, ou de qualquer outra pessoa. Se você conseguir aceitar tranquilamente o fato de estar rodeado de idiotas, vai perceber que não adianta nada resistir, se sentirá mais aliviado reclinando-se na cadeira e dando uma boa risada à custa dos outros.

domingo, 15 de abril de 2007

TRABALHO

Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
E quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Estruturalismo

“Em primeiro lugar, os eventos-singularidades correspondem a séries heterogêneas, organizadas num sistema que não é estável nem instável, mas “metaestável”, dotado de uma energia potencial na qual se distribuem as diferenças entre as séries.
Em segundo lugar, as singularidades possuem um processo de auto-unificação, sempre móvel e deslocado, na medida em que um elemento paradoxal atravessa as séries e as faz ressoarem, envolvendo os pontos singulares correspondentes num único ponto aleatório e todas as emissões, todos os lances dados, numa única jogada”

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Agir com intenções: seja segunda ou primeira.

A vida do homem consiste numa milícia contra a malícia do homem.

A astúcia se arma com estratégias de intenção.

Nunca faz o que indica.

Aponta enganosamente, ataca indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta.

A fim de conquistar a atenção e a confiança dos outros insinua sua intenção.

Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa.

A inteligência perspicaz desvia-se da astúcia observando-a detidamente, espreita-a com cautela, compreende o oposto do que a astúcia quis que compreendesse e identifica de imediato as falsas intenções.

A Inteligência ignora a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira.

A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto, e tenta enganar contando a verdade.

Muda de Jogo, engana com a aparente falta de malícia.

Sua astúcia se baseia na maior sinceridade.

Mas a observação se adianta, vê através de tudo isso e descobre as sombras envoltas em luz.

Decifra a intenção, que mais ardilosa quanto mais simples.


Autor Baltazar de Gracian - A Arte da Sabedoria Mundana.

DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA

Quando seja louvável em um príncipe o manter a fé (da palavra dada) e viver com integridade, e não com astúcia, todos compreendem; contudo, vê-se nos nossos tempos, pela experiência, alguns príncipes terem realizado grandes coisas a despeito de terem tido em pouca conta a fé da palavra dada, sabendo pela astúcia transtornar a inteligência dos homens; no final, conseguiram superar aqueles que se firmaram sobre a lealdade.
Deveis saber, então, que existem dois modos de combater: um com as leis, o outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo, dos animais; mas, como o primeiro modo muitas vezes não é suficiente, convém recorrer ao segundo. Portanto, a um príncipe torna-se necessário saber bem empregar o animal e o homem. Esta matéria, aliás, foi ensinada aos príncipes, veladamente, pelos antigos escritores, os quais descrevem como Aquiles e muitos outros príncipes antigos foram confiados à educação do centauro Quiron. Isso não quer dizer outra coisa, o ter por preceptor um ser meio animal e meio homem, senão que um príncipe precisa saber usar uma e outra dessas naturezas: uma sem a outra não é durável.
Necessitando um príncipe, pois, saber bem empregar o animal, deve deste tomar como modelos a raposa e o leão, eis que este não se defende dos laços e aquela não tem defesa contra os lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Aqueles que agem apenas como o leão, não conhecem a sua arte. Logo, um senhor prudente não pode nem deve guardar sua palavra, quando isso seja prejudicial aos seus interesses e quando desapareceram as causas que o levaram a empenhá-la. Se todos os homens fossem bons, este preceito seria mau; mas, porque são maus e não observariam a sua fé a teu respeito, não há razão para que a cumpras para com eles. Jamais faltaram a um príncipe razões legítimas para justificar a sua quebra da palavra. Disto poder-se-ia dar inúmeros exemplos modernos, mostrar quantas pazes e quantas promessas foram tornadas írritas e vãs pela infidelidade dos príncipes; e aquele que, com mais perfeição, soube agir como a raposa, saiu-se melhor. Mas é necessário saber bem disfarçar esta qualidade e ser grande simulador e dissimulador: tão simples são os homens e de tal forma cedem às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar.

Incrível que após 500 anos, a nossa realidade é idêntica, ou pior.
Autor Maquiavel - O Príncipe.